Opinião

A pressa de Pedro é a necessidade do PSDB de voltar a ocupar espaços de relevo

PSDB avançou nas últimas eleições. Se tornou o segundo maior partido em número de prefeituras da Paraíba, com 27 eleitos, e voltou a ser a principal oposição ao governo da Paraíba. Apesar disso, em comparação com anos anteriores, os tucanos perderam muito – em espaço e musculatura. Em quatro anos, menos 10 prefeitos. Soma-se a isso, a derrota acachapante na corrida ao Senado. Cássio Cunha Lima, antes um expoente da política local, amargou uma quarta colocação na disputa. Pedro Cunha Lima saiu de deputado federal mais votado na Paraíba em 2014 para a oitava colocação no pleito seguinte.  Não é de se admirar que os tucanos procurem se reorganizar agora com tanta disposição para as eleições 2022. É uma questão de sobrevivência em um terreno que nunca esteve tão movediço.

O PSDB não está sozinho nesse processo de desidratação.  Não é de hoje que partidos tradicionais vêm enfrentando crise, e o Congresso Nacional retrata bem essa fadiga. Desde 1994 há um desalinho do sistema partidário com redução das bancadas e aumento da fragmentação partidária em pelo menos 30%. Em 2018, contudo, o jogo mudou completamente . Podemos dizer que a última eleição foi um divisor de águas. Legendas até então inexpressivas cresceram de forma meteórica. O PSD que jamais havia feito um deputado sequer, avançou . Partidos de extrema direita, caso do PSL, incharam.  No Senado, o número de bancadas passou de 13, em 2014, para 19 e 21 nos pleitos subsequentes. Na Câmara, eram 22, 28 e, em 2020, 30.

Há um rearranjo no campo partidário. E para 2022 novas configurações certamente surgirão em função da cláusula de desempenho, o que deve reduzir a fragmentação partidária. Mas –  sempre tem um mas – legendas tradicionais como PCdoB, PV, PSOL, PROS e Novo, devem ser seriamente afetadas. É o que indica um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).  Esse perigo o PSDB não corre, mas existe certa unidade no ninho tucano quanto à necessidade de reorganização interna. Na Paraíba, é o que Pedro Cunha Lima vem buscando. Há uma preocupação em recuperar, por exemplo, o comando do Estado. Sem a estrutura da máquina administrativa este é um desafio e tanto. Sabendo disso, Pedro, como presidente estadual do Partido, tenta fazer mudanças no quadro para torná-lo mais atrativo eleitoralmente. A primeira aposta é Nilvan Ferreira, hoje no MDB. Nilvan não carrega com ele qualquer tradição política, mas foi o segundo colocado nas eleições para prefeitura de João Pessoa. Tem carisma, o que já é meio caminho andado. Se vai aceitar o convite, se sofrerá ou não algum tipo de desidratação até 2022 por estar atrelado ao bolsonarismo, aí são outros quinhentos.

Como tocar esse projeto sem perder de vista a eleição para Câmara Federal ? O PSDB conseguiu fazer três deputados em 2018. Manter os mandatos federais exige foco. Qual vai ser a prioridade? De todo modo, ter um nome forte para a disputa ao governo é preciso até para puxar deputados. Nilvan seria esse nome? Ou seria Pedro o candidato mais viável? Qual o lugar do ex-senador Cássio Cunha Lima nisso? Os passos terão que ser muito bem coordenados sob pena de aumentar a fragilidade na legenda que há mais de 10 anos está fora do comando do poder paraibano. Isso conta muito no desgaste do poder de arregimentar apoios e votos. Mas se não é possível fazer costuras sólidas agora, Pedro vai cuidando dos alinhavos com as bênçãos de Eduardo Leite, presidente nacional da legenda, que não esconde o desejo de vê-lo como candidato ao governo da Paraíba, mas também o pressiona para que a bancada federal paraibana não perca estatura na Câmara dos deputados.

Pedro tem pautado o mandato em duas principais plataformas: educação e enxugamento da máquina pública. São temas de interesse coletivo, capaz de mobilizar pessoas; se isso fará com que ele tenha força ou fôlego para uma candidatura competitiva, chegar a um segundo turno e desbancar João Azevêdo que já conta com 42 prefeituras, só o tempo, a estrutura oferecida pelo PSDB e o cenário local e nacional a médio prazo vão dizer. Mas essa rede de apoio de João – que tende a aumentar com a proximidade das eleições visto que ele tem o poder da caneta – e a necessidade de furá-la explica a pressa de Pedro em antecipar esse debate. Pra ser lembrado, é preciso se mostrar. Assim caminha o PSDB na Paraíba.